terça-feira, 4 de agosto de 2020

TENHO PENSADO SOBRE NÃO ESTAR...



Vejo algumas pessoas tentando preencher um certo vazio surgido na quarentena por causa do distanciamento social, vejo elas (eu também?) aparecendo e se enfiando em 497 reuniões, aulas e eventos online.

Eu não acho isso certo, porém também não acho errado.

Por se tratar de pessoas adultas, creio que ninguém melhor do que elas mesmas podem saber onde e como se sentem bem.

Porém, ao ver (viver?) isso uma lanterninha acendeu aqui dentro e resolvi pensar sobre.

Como disse, cada pessoa sabe o que é melhor pra si e pode trilhar seu caminho livremente. mas na minha reflexão, tenho pensado muito sobre os meus buracos, os meus vazios, e que fico "caçando" coisas, atividades, e também pessoas para preencherem eles e então eu ter uma (falsa?) "ideia" de plenitude, de preenchimento, e até porque não dizer uma sensação de "estou realizando a minha missão de vida", ou "eu sou assim, preciso me envolver..."

Será?
Me parece tão arrogante.

Me parece que eu apenas estou dando justificativas para não olhar pro vazio, pros meus buracos, pra essas amputações todas que eu e todo mundo sofre ao longo da vida.

Amores não vividos e não correspondidos; sonhos não sonhados, não realizados; viagens não viajadas; pessoas que se foram, outras que nem chegaram...

Enfim, cada um sabe dos seus "amputamentos" - nem sei se esse termo existe.

Mas também temos vivido os buracos e vazios que esse momento histórico evidenciou (porque existem há muito tempo, mas ainda há que não veja): o racismo, a xenofobia, a LGBTQIA+fobia, a gordofobia e tantos preconceitos e mazelas que nos ferem, e nos matam todos os dias e há tanto tempo...

E então, me parece que inventamos atividades, reuniões, compromissos excessivos, para não termos que encarar essas coisas de frente, criamos uma reunião de articulação para nos organizarmos para "lutarmos" por uma causa, porque assim nos ocupamos com a reunião e não em encarar a tal causa, porque sim, dói, e dói muito.

Mas, até quando?

Quantos artifícios mais usaremos até não podermos mais fugir?

Será que um dia isso muda?

Será?

Ou será que até a ideia de mudança é uma fuga?

E se estamos fugindo das dores, porque só não paramos e olhamos pra elas?

Mas e se isso tudo nem existe?

E então, talvez, tudo esteja bem como está!

Não?

PRISCILA KLESSE