A escuta parece ser o assunto ou a grande questão dessa minha semana...
Na verdade esse tema me atravessa há anos, sempre me interesso por ele porque acredito que muitos conflitos e muitas coisas poderiam ser resolvidas e até evitadas se nós escutássemos verdadeiramente, é que essa semana a coisa pegou forte...
Penso que é difícil ouvir de verdade, embora seja uma função involuntária de nossos corpos, quando funcionando normalmente, assim como respirar, eu percebo que escutar, ouvir nunca é tão simples e nem está ligado unicamente aos nossos ouvidos, penso que escutar é uma percepção que está além dos ouvidos, é com o corpo todo.
Tem livros que falam sobre isso, pesquisas, filmes e tantas coisas mais... tem até curso para melhorar a comunicação, para ela não ser violenta e a escuta sempre é um ponto importante.
Há anos atrás, até participei de um curta metragem com esse tema...
Acho que o que me pegou mais e me trouxe essa escrita foi uma expectativa que eu criei... Uma pessoa do meu círculo de amigos, alguém com quem eu não convivo muito, nem diretamente, mas é alguém que eu considero muito e tenho um carinho todo especial se mostrou 'não escutadora' esses dias, e aí eu entrei em várias reflexões...
Comecei me questionando sobre como essa pessoa, que tem toda uma fala e até alguns trabalhos que envolvem o escutar verdadeiro e atento, poderia não estar escutando o que ela própria estava dizendo, sendo que se ela se ouvisse ela mesma resolveria a questão que a estava incomodando?
Mas depois, fiquei pensando mais profundamente e cheguei num grande ponto: eu a estava escutando verdadeiramente durante todo esse tempo que a conheço?
E então, descobri que não, que eu também não estava ouvindo que ela me dizia como ela era todos esses anos que nos conhecemos e eu, por ter certa admiração por ela, criei sobre ela um alguém que ela não é, ou pelo menos não inteiramente... eu criei para ela essa máscara de que ela seria uma grande 'escutadora', mas de fato, relembrando outros momentos da vida, ela já mostrava que não é... assim como eu não sou, mas também como eu, ela busca ser e talz...
Foi libertador pra mim...
Outro ponto é, dou aulas de teatro para crianças, adolescentes, adultos e idosos, gosto muito dos trabalhos de corpo que realizamos, tanto individuais como em grupo, e a coisa da escuta é um ponto a ser observado aqui... Nesses trabalhos, e podendo observar meus estudantes, sempre percebo que não se ouvem, mal se escutam a si mesmos, quem dirá escutar os outros...
Me incluo sempre sobre não meu corpo...
É um trabalho de pesquisa que faço, muito interessante... eu mesma me esforço muito e sempre para escutar realmente, não tirar conclusões ou responder instantaneamente, mas nem sempre consigo... e no que diz respeito aos outros, eu procuro, quando possível, colaborar para a escuta das pessoas... são incríveis os momentos em que as pessoas afirmam com certeza que conseguem se ouvir e ouvir os demais, mas gente, a gente escuta bem mal, vamos aceitar?
Nosso corpo nos diz que há algo errado, e a gente vai ignorando ou toma um remédio por conta, pra parar de ouvir o que ele está dizendo através de uma dor de cabeça, por exemplo...
A gente tem conversas difíceis, fingimos compreender as coisas que nos dizem, parecemos ouvir os pontos que precisamos melhorar em nós por um trabalho ou uma relação e saindo da conversa já ignoramos tudo e seguimos como se a conversa nem houvesse acontecido...
Tem muitos momentos em que percebo nossa falta de escuta ativa na vida...
Eu li um livro, faz um tempo, que penso que foi onde eu melhor compreendi essas questões, é o "Palhaço e o Psicanalista", de Christian Dunker e Claudio Thebas, uma das pérolas que encontrei lá:
O bom escutador é leitor de textos e de pessoas, alguém que se interessa por entrar na vida alheia porque ela é um desafio de leitura, como um bom livro ou filme que, ao procurarmos ler ou assistir, enriquecemos.
E por fim, quero deixar aqui um vídeo riquíssimo que mostra a realidade:
