sexta-feira, 19 de outubro de 2018

NÓS, OS ARTISTAS


*contém ironia.

Nós, os artistas, que por vezes trabalhamos também em outras áreas, pra além do nosso ofício artístico, desempenhamos outro, porque aqui, nesta terra fértil, a arte é vista como hobby, e nós, por incrível que pareça, precisamos comer, vestir, viver, sobreviver.

Nós, os artistas, que pra você somos vagabundos e só queremos "mamar nas tetas" do governo.

Nós, os artistas, que nem somos percebidos pela sociedade, dizem.

Nós, os artistas, que pra você só estamos sabendo reclamar agora, e encher o saco, e falar coisas que nem estão realmente acontecendo... será?

Nós, os artistas, ninguéns, inofensivos... Tão inofensivos que somos os primeiros a sermos caçados, silenciados por aqueles que são contra a democracia, por aqueles que não sabem ouvir opiniões diferentes...

Nós, os artistas, que você nem sabe porque fazemos tanto barulho nesse momento, nós seremos os primeiros silenciados!

Nós, os artistas, a raça de gente mais perigosa que há, que provoca o pensamento, a reflexão, tira o belo, a poesia de tudo e ainda evidencia as mazelas, denuncia...
Nós, os artistas, seres tão sensíveis e tão frágeis, resistimos, perseguidos, mortos, torturados, desaparecidos, e ainda assim, seguimos questionando e provocando.
A obra continua, apesar da morte a vida continua e o Sol sempre nasce, não há um único dia sequer que ele não se faça presente.
E assim somos nós, os artistas, como o Sol, brilhando, queimando mesmo encobertos por densas nuvens, mas elas passarão, e nós continuaremos...

PRISCILA KLESSE

OBSERVAÇÃO PESSOAL


Queria falar das pessoas... Mas talvez seja mais sobre mim, sobre meu olhar...

Tenho andado por aí no meio das pessoas mais do que em qualquer outro momento da minha vida e isso é fantástico!

Na correria do dia a dia a maior parte de nós não se observa, não olhamos uns para aos outros, muito menos nos olhos, e usamos a pressa, os compromissos como desculpa, justificativa.

Até recentemente eu estava totalmente nesse lugar... Me provoquei a sair...
Passei a prestar mais atenção em dar bom dia, tarde, noite às pessoas do meu caminho (porteiros, recepcionistas, balconistas, etc...), ao me provocar e me observar percebi o quanto eu não fazia isso tanto quanto pensava que fazia e o quanto eu ainda tenho que me vencer para não voltar ao hábito da ignorância - de ignorar as pessoas, de entrar na rotina, no hábito da pressa.

Outra provocação que tenho me colocado é de observar as pessoas nas ruas...
Às vezes me sento num terminal rodoviário por um tempo e fico observando... às vezes é dentro do transporte público, em bibliotecas e outros lugares...
Primeiro passei um tempo absorvendo tudo isso, assimilando e me deixando ser tocada, permitir que tudo isso começasse a reverberar, ressoar em mim, que me atravessasse.

Às vezes parece que somos indivíduos extremamente solitários no meio da multidão.... outras vezes parece que somos uma grande família gigantesca ou ainda um único ser onde cada indivíduo é uma célula, um átomo desse ser maior...

Só uma observação breve...

PRISCILA KLESSE

CHORO


Existe em mim um choro que não sai
Um choro, aqui, parado e apertado no peito
Deve ser a resistência...
A necessidade de seguir firme no leme, de pé no front.

São muitos os que seguem como eu
O medo está em nós, e ele é forte
Mas insistimos em ignorá-lo
Insistimos em resistir!
Em seguir
Em existir

Um dia chegará, o choro transbordará
Que seja de alegria
Que seja pelo amor.

E será! Eu sei que será!

Mesmo na escuridão, o amor sempre vencerá!!!

PRISCILA KLESSE