terça-feira, 23 de junho de 2020

MORTE



Tenho pensado muito na morte.

Acho que sempre pensei, mas agora talvez de forma mais latente, mais evidente.

Outro dia pensei que a melhor forma de viver deve ser fazendo as pazes com a morte e aceitando o inevitável.

Mas não consegui ter certeza.

Ou talvez só não consiga aceitar.

Tenho meus momentos de desespero sobre esse assunto, principalmente diante do que vivemos.

É insuportável pensar que mesmo com todos os cuidados, estamos correndo risco e os nossos também...

Num dia está tudo bem, de repente os sintomas e não se sabe o depois.

Perdi algumas pessoas pra essa doença, mas ela também perdeu porque outros meus a venceram.
Seguimos nesse combate.

Sem muita certeza do poderio de nossas armas e sem saber quem e quando será o próximo atingido, a próxima baixa...

Mas pensava eu...
No fundo não foi sempre assim?
A vida sempre foi e é um sopro
A qualquer momento podemos ir ou os nossos de repente se vão e ficamos nós, com os vazios...

Estou há quase 2 meses em casa, de quarentena e nunca antes na minha vida perdi tantos... e disse tantos "meus sentimentos" como nesses tempos...

Eu sei que esse é o fim de todas as nossas histórias, a gente sabe desde que nasce que um dia vai morrer, mas é difícil aceitar, cada pessoa não é um número, é um amontoado de histórias, de causos, de amores, desamores, encontros, desencontros, risos, lágrimas, tantas coisas... e em um sopro restam apenas as lembranças nos corações e na memória dos que ficaram...

PRISCILA KLESSE
 *escrito em 02 de maio de 2020

sexta-feira, 19 de junho de 2020

SONHEI QUE ESTAVA DENTRO DE UMA GAVETA



Um dia desses eu fechei os olhos e quando vi estava dentro de uma gaveta!
- Socorro! - eu gritei
Silêncio
Notei que haviam outras, outras eus na mesma gaveta e outras gavetas com muitas outras eus, todas engavetadinhas, bonitinhas, etiquetadas, enumeradas, classificadas, e ordenadas.
Que desespero!
Gritei de novo!
Silêncio
Como isso foi possível?
Logo eu, tão "contra - normas", "contra - rótulos", "contra - regras"...
Mas eu estava ali
Todas aquelas eus estavam ali - engavetadas e rotuladas, cumprindo direitinho as regras e as normas de seus rótulos.
Como isso era possível? - fiquei dias, semanas, meses me perguntando isso...
E a cada dia ia me dando conta de que mais eus estavam ali e mesmo quando eu pensava, acreditava que havia saído de uma gaveta, eu só estava entrando em outra, com outras normas e regras, mas que algumas vezes, por elas serem maiores e mais arejadas, eu imaginava ter encontrado a tal "liberdade".
Ah! Quanta ingenuidade a minha!
Mas alguma eu, ou algumas não sei bem, me diziam: "Não perca essa ingenuidade! É bom, às vezes, acreditar que não estamos em gavetas, talvez assim elas desapareçam, mesmo que seja só por algum tempo..."

Talvez as gavetas sejam mesmo criações nossas pra dar conta do nosso caos interno, que insistimos em dizer (mentir) que eles não existem.

Eu não sei, e na verdade fico feliz em não saber, em não ter respostas.

Sigo nas gavetas... ou não...
Eu não sou gavetinha.
Talvez seja um armário, uma cômoda ou um arquivo infinito de gavetas...

Ou não

Nada disso precisa fazer sentido
E nem ser definitivo
Talvez isso nem importe
E é melhor assim...

Ou não!

PRISCILA KLESSE
* escrito em 01 de maio de 2020.

terça-feira, 16 de junho de 2020

EU ALVO, ENTRE OS PRIVILEGIADOS!



O meu corpo não é alvo: cândido, branco, segundo o dicionário.

Mas é alvo: objetivo físico visado para destruição parcial ou total, segundo dicionário.

Isto eu digo quando falo de cor, e digo quando falo dos fatos. Fatos e dados expostos nos jornais, que pouco denunciam, porém, naturalizam o ato de eu ser alvo de balas e da violência policial. Que por ser pessoa de pele preta, me torno mira de um Estado assassino e opressor. Faz parte da minha dor, estando eu no Brasil, nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra... E até mesmo, se eu estivesse em algum país da África, também vítima do europeu colonizador. Nenhum branco imagina isto. Não é algo que ele possa discursar, mas o faz. Sinceramente, não é algo que ele se preocupe, porque o afeta pouco, o comove pouco, e o ajuda muito: privilégios. Mas não serei eu que explicarei sobre os privilégios aos privilegiados, eles tem privilégios suficientes, para acessar estas informações.

Mas Aline, por que escreve este texto então? 

Ahh... Pensei em algo a escrever após o convite, e me veio estas situações todas que entraram em foco, mas em breve voltarão ao esquecimento da terna população branca. E abro meu coração aos meus amigos, para dizer que sim, todo este movimento me atingiu e me sufocou as ideias, por isto, poderia falar de qualquer outra coisa agora... Mas sinto que é bom, que é meu direito, que faz parte do que devo exigir, também ser ouvida sobre isto que me incomoda. 

Creio que no primeiro parágrafo deste texto, já expus o filme que vem e vai por muito tempo em minha mente. Não vou me alongar... Também não preciso. Também não quero. É meu direito.

Percebe, somos complexos, muito complexos. Eu sei pra quem quero falar. E eu sei pra quem devo resposta. E a cada dia desejo exercer mais da liberdade que não tem vindo gratuitamente, que não está acessível a todos, que é saqueada continuamente dos meus.

Passo por esta página, a convite de uma amada amiga.

Mas creio que a minha fala, que o meu corpo, que as minhas ideias e meus sonhos, tem um alvo também. Alvo que está direcionado aos meus semelhantes. É pra eles que desejo direcionar minha fala, para eles que desejo investir meu trabalho e minha energia, e por eles que vieram antes de mim, que desejo empenhar meus sonhos. Sonhos de continuidade. Sonhos de prosperidade. Sonhos de liberdade e vida.

Eu tenho um alvo: centro de interesse, objetivo. É por ele que luto. 

Obrigada

ALINE FERREIRA SILVA ANTONIO
@aie.antonia



Aline Ferreira, vulgo Aiê Antônia, 29 anos de idade. Taurina. Graduada em Ciências Contábeis, consultora em finanças pessoais, produtora cultural, estudante de licenciatura em Arte - Teatro, dramaturga e poeta. Corpo preto e periférico em resistência constante.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

DOS MEUS EGOÍSMOS...



Não são só os meus

ou não apenas sobre eles...

Que tempos estes?

Tão egoístas...

Ah, mas não são os tempos
os tempos não são responsáveis

A sociedade já tinha muitas figuras egoístas há muito tempo...

Talvez hoje a diferença é que estou, estamos olhando...

É muito fácil apontar pro egoísmo dos outros

E olhar para os meus?

E reconhecer os meus?

Seria tão melhor se eu não os tivesse...

Será?

Não sei

Sei que tem muitos monstros à solta e eles provocam e despertam os meus!

PRISCILA KLESSE

*escrito em 30 de Abril de 2020.

terça-feira, 9 de junho de 2020

A QUARENTENA E OS TOMBOS QUE EU LEVEI...



Será que mais alguém além de mim sentiu necessidade de uma ou de algumas folgas dentro da quarentena?

Eu nem sei se consigo explicar direito porquê, mas olha, tem hora que é puxado viu!

Essa minha sumida daqui tem a ver com isso.
Eu tive uma sequência de crises existenciais, um tombo em looping infinito... nem sei se já acabou...

Sem aviso prévio ou pedido, simplesmente foi acontecendo, quando vi já estava revisitando e reavaliando toda a minha vida, carreira, sonhos, escolhas, amores, etc, etc, etc...
(isso foi a pedra onde tropecei e meu capote começou... puxei um fio que não pára de trazer coisas...)

Travei.

A crise me fez parar.
Eu precisava silenciar e ouvir o que vinha de dentro.
Simplesmente parei e acolhi aquela tsunami que chegava.

Chorei compulsivamente durante dias, e ainda choro às vezes.

Não conseguia escrever, criar absolutamente nada, a criatividade parecia ter secado pra sempre...
Fiquei muito assustada, não estava nada bem, mas ao mesmo tempo estava tudo ok em estar assim - doidera! Parecia que uma parte minha sabia que isso era preciso, necessário e que mesmo que eu não voltasse a encontrar o mínimo de ordem nesse caos, estava tudo bem assim... (isso me manteve calma, um pouco pelo menos)

Depois de alguns dias, voltei a escrever no meu diário, já foi uma conquista.

Mais alguns dias e o hd do meu computador queimou... O HD DO MEU COMPUTADOR QUEIMOU! Eu preciso do computador para estudar e trabalhar! 
No momento em que escrevo, ainda estou sem computador, está na manutenção... tipo eu... 

Outro surto.

E então minha mente, no esforço absurdo de dar sentido ao caos, começa a filosofar sobre o momento, criar analogias e metáforas... Segue:

"O mundo que conhecíamos acabou, nós meio que "morremos" - sonhos, planos, ideias, trabalhos, atividades, etc - mas as nossas "carcaças" ficaram e muitas memórias, mas muitas coisas em nós já não funcionam como antes e se não trocarmos, atualizarmos, limparmos o nosso "HD" - cabeça, cérebro, pensamentos, use o nome que achar melhor - já já é o nosso "processador" - coração - que vai parar! Se não mudarmos nosso jeito de pensar, de lidar com as coisas, nossas emoções não suportarão..."

Definitivamente uma grande brisa minha no meio da quarentena... 

E hoje eu to sentindo que a vida ta esfregando na minha cara que eu preciso aprender que eu não controlo absolutamente nada e principalmente: Que eu não sei nada! Porque eu achava que sabia lidar com certas coisas, que essa coisa do controle eu já tava lidando melhor...

Uma piada, onde a vida que está rindo, porque eu...

Nada

Se algum dia eu tive alguma coisa no lugar, essa coisa saiu agora...
Tá tudo zuado!

Mas ao mesmo tempo tá tudo bem.
E não estou dizendo isso porque estou negando o caos, ou porque sou bipolar, pelo contrário, to bem ciente do meu caos interno e aceitando ele bem de boas - se não pode com ele, junte-se a ele, não é isso?

Talvez daqui eu consiga criar uma nova eu, melhor e mais interessante, o que eu gostaria muito, porque eu mesma ando enjoada de mim.

Só que eu estou feliz, tem sido difícil ficar em isolamento, sinto falta do contato, dos abraços, de estar com as pessoas que gosto.

Eu perdi pessoas nesses dias...

Acho que eu nunca perdi tantas em tão curto espaço de tempo em toda a minha vida como nesses tempos que vivemos...

Eu não vejo a hora que isso acabe...

Por favor, fique em casa se você puder, use máscara, lave as mãos, tome os cuidados.
Vamos nos cuidar e cuidar dos nossos...
É muito triste tudo isso...

PRISCILA KLESSE
*escrito em 30 de abril de 2020