sexta-feira, 19 de agosto de 2016

SONHO ESCURO



Era um pássaro que não sabia voar.
Sabia da existência de suas asas, mas não acreditava na força delas, muito menos que elas poderiam fazê-lo voar.
Era belo, tinha certa dificuldade de se enxergar belo, mas sabia que era.
Um dia percebeu que estava muito feliz em sua jornada, mas queria mais, queria compartilhar, multiplicar o que sentia.
Numa noite, observando o lago e a lua, sentia em seu coração que poderia encontrar outro pássaro para então compartilhar o que sentia e o que vivia.
Sentiu isso com força em seu coração, suspirou e deixou...
Em sua rotina encontrou um pássaro muito interessante e logo se tornaram grandes amigos. Tinham muitas coisas e gostos em comum.
Com o convívio foram se tornando cada vez mais próximos, até que se perceberam apaixonados.
Resolveram ficar juntos.
Foram ficando... ficando...
Se amando mais, trocando experiências...
O outro pássaro lhe ensinou a acreditar em suas asas e lhe ajudou a ter forças para voar...
Demorou... mas voou....
Se apaixonou pelo voo... nunca havia sentido ou vivido nada parecido com aquilo... vibrava...
Mas o outro pássaro começou a se sentir deixado de lado... se sentia esquecido...
Um dia, pegou suas coisas e foi embora. 
Quando o pássaro voltou de um lindo voo, cheio de histórias para contar... encontrou o ninho vazio... procurou algum recado, algum vestígio... e nada...
Sentou-se e se sentiu só.
Olhou para o céu e procurou pela lua, mas o céu todo estava cinza, não via nada... a única coisa que via era um pôr-do-sol sem sol e muito, muito distante.
Enfim... escureceu.
O ninho escuro.
O céu e tudo estava escuro.
E percebeu que até seu coração já havia se tornado escuro.
Suas penas foram ficando escuras... uma a uma...
Em pouco tempo já era um pássaro negro.
Solitário.
Estava só.
Sentia-se tão só, como nunca antes.
A única coisa que podia fazer era voar... 
e passou a voar sem parar, foi o que aprendeu com o amado, e era a única oportunidade de se sentir perto dele, mesmo sabendo que era ilusão...
Nunca mais houve luz.
Nunca mais sentiu seu coração quente.
Havia nada no lugar de seu coração.
E assim ele viveu até sumir definitivamente engolido na escuridão.

Autora: Priscila Klesse

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