A vida tem me trazido as curas que pedi, mas como eram muitas, o preço que estou pagando é a falta de tempo para me dedicar a essa minha arte de escrever da forma que gosto.
Mas a mesma vida, ela sempre tão sábia, me trouxe a cura para isso também.
Estou em mais uma de minhas viagens de trem, entre idas e voltas de trabalhos... escrevo em meu caderninho; minha letra, que já não é bonita, está pior por conta do movimento do trem, me preocupo apenas se conseguirei entender o que estou escrevendo pra poder publicar...
Há algumas semanas, assisti ao filme "Jojo Rabbit", gostei bastante do filme, mas não foi ele quem me atravessou de verdade e me suspendeu no tempo por um longo período, quem fez isso foi uma frase, de um poeta no final do filme... o filme acaba com uma tela preta e a frase:
"Deixe tudo acontecer a você
Beleza e Terror
Apenas siga em frente
Nenhum sentimento é definitivo".
- Rainer Maria Rilke
Eu, que já havia escutado sobre esse autor, mas ainda sem contato com sua obra, parei e fiquei durante um bom tempo lendo, relendo e reverberando essas palavras...
Isso me levou a buscar alguma obra dele pra ler e conhecer, mas a frase seguiu e segue ecoando em mim e tem me guiado em muitos momentos...
A primeira obra que escolhi, ou que me escolheu, foi "Cartas a um Jovem Poeta" - evidente que o título me atraiu.
Estou lendo nesse momento em que começo a escrever, e volto a escrever justamente por causa das seguintes palavras que me deparei no livro:
"Uma obra de arte é boa quando surge de uma necessidade. É no modo como ela se origina que se encontra seu valor, não há nenhum outro critério. Por isso, prezado senhor, eu não saberia dar nenhum conselho senão este: voltar-se para si mesmo e sondar as profundezas de onde vem a sua vida; nesta fonte o senhor encontrará a resposta para a questão de saber se precisa criar. Aceite-a como ela for, sem interpretá-la. Talvez ela revele que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso, aceite sua sorte e a suporte, com seu peso e sua grandeza, sem perguntar nunca pela recompensa que poderia vir de fora. Pois o criador tem de ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si mesmo e na natureza, da qual se aproximou".
Sigo presa neste trecho, fico lendo, relendo e reverberando... sentindo...
Quando termino de escrever este texto, já se foram mais de 24 horas de quando comecei a ler o livro de Rilke e começar a escrever...
O livro, ainda está parado na página deste trecho, não consigo sair...
Talvez, o 'ensinamento' que me chega com isso tudo seja o de parar de brigar com a minha natureza de artista... Devo apenas aceitar o chamado que recebi e minha condição criadora. Mas também penso ser importante reafirmar que não devo criar pela recompensa, ou a ilusão dela, isso é perda de tempo, principalmente nesse mundo que vivemos, onde gente que não produz arte é chamada de artista apenas por ser famosa e gente que produz arte intensamente incrível não é valorizada porque não é famosa.
Escrever me ajuda a estar comigo mesma e em mim, e quando fico assim, estou mais inteira no mundo e com o mundo.
Se você chegou até aqui comigo, te agradeço e te desejo que encontre o que faz tua vida vibrar intensamente, caso ainda não tenha encontrado, e que você tenha coragem de dedicar pelo menos alguns momentos dos teus dias pra viver essa intensidade, essa plenitude.
Um abraço.
PRISCILA KLESSE